

No universo musical, ela é uma fabulosa cantora, uma das melhores cantoras de todos os tempos, amada por gerações, amada por compositores, pois dá uma interpretação única as canções, cantora preferida por Ary Barroso entre outros. Elis Regina citou-a como a mehor cantora do Brasil, quem podería ser? Ângela Maria, é claro.
Ângela Maria, nome artístico de Abelim Maria da Cunha (Conceição de Macabu, 13 de maio de 1928) é uma das mais marcantes cantora brasileira.
Começou cantando em coro de Igreja. Enquanto trabalhava numa fábrica de lâmpadas, participava, às escondidas, de programas de calouros. Adotou o nome de Ângela Maria para não ser identificada pela família. Como ganhava todos os concursos, foi cantar no famoso Dancing Avenida e depois na rádio Mayrink Veiga. Em 1951 gravou o primeiro disco. Veio assim o sucesso que sempre a acompanhou. Atuou em cinema, no longa-metragem Portugal, Minha Saudade (1973).

Gravou dezenas de sucessos como Não Tenho Você, Babalu, Cinderela, Moça Bonita, Vá, mas Volte, Garota Solitária, Falhaste coração, Canto paraguaio, A noite e a despedida, Gente humilde, Lábios de mel, etc.




Voltando a gravar na RCA Victor em fins da década de 1950, em 1963 viajou para Portugal e África, cantando para soldados portugueses que então lutavam nas colônias. Um de seus grandes êxitos na segunda metade da década de 1960 foi a canção Gente humilde (Garoto, Chico Buarque e Vinícius de Moraes).
Considerada, ao lado de Elis Regina, uma das mais puras vozes da musica popular brasileira, continua a apresentar-se em espetáculos e em televisão.

A lenda viva da MPB revela a Rodrigo Faour que já teve medo de ser esquecida e se diz lisonjeada com a homenagem que acaba de receber na Banda de Ipanema (RJ)
"Todos eles estão errados/ A lua é dos namorados". Puxando esse refrão, que embalou os foliões do carnaval de 1961, Ângela Maria abriu, no último dia 10, a 36ª edição da Banda de Ipanema no Rio de Janeiro, quando foi homenageada desfilando pelas ruas do bairro sobre um trio elétrico. Consagrada, a cantora emocionou-se ao ver uma multidão de jovens pedindo que ela voltasse a cantar no encerramento da banda.

O repertório de Ângela sempre foi muito eclético. Era capaz de cantar das coisas mais lindas às maiores tolices, do samba-canção ao tango, do bolero à marchinha de carnaval, mas sempre com tom de nobreza. Nos anos 60, após alguns sucessos kitsch como o cha cha cha Garota Solitária e o samba-canção Cinderela, ela ainda conseguiu se manter gravando - a duras penas. Era uma época difícil para os cantores de sua geração, mas ela emplacou dois sucessos, Gente Humilde (70), sua canção preferida, e Tango para Teresa (75).
Pergunta:- Como você se sentiu sendo aclamada por uma multidão de jovens na Banda de Ipanema este ano?
Ângela Maria - Lembro-me de ouvir falar na Banda de Ipanema desde a época da Leila Diniz. Associo à Leila porque ela era muito famosa, alegre, extrovertida, maravilhosa. O Albino Pinheiro me convidava sempre para sair na banda, mas eu sempre dizia que não era a minha praia, que não sabia pular e dançar, que não gostava de carnaval. Dizia: "Vou ficar parada que nem uma múmia, não tenho espírito carnavalesco." "Mas o pessoal quer ver você", ele dizia. Nunca aceitei. Ele morreu e foi um choque tremendo. Albino tinha grandes planos para mim, era uma pessoa que, quando via que eu estava sumida do Rio, me chamava e dizia: "As pessoas têm que saber que você está viva". Porque quando o artista não está com músicas na parada, muita gente pensa que ele já morreu... Albino sempre me deu a mão, sempre muito bom e carinhoso comigo. Quando recebi o convite do irmão dele, Cláudio, para sair na banda nesse ano ainda hesitei, mesmo assim. O Daniel (meu marido) é que disse: "Acho que você deve ir porque quem criou a banda foi o Albino e ele ficaria muito feliz de vê-la ali". Aceitei.

Pergunta:- No decorrer de sua carreira, alguma vez você teve medo de ficar esquecida?
Ângela Maria - Se algum cantor, ator ou atriz disser "Imagine, eu não, nunca tive medo", isso é mentira. Todo mundo tem medo de ser esquecido. O cantor quando liga o rádio e não ouve seu disco tocando pensa que já acabou. Tive vários altos e baixos e já fiquei muitas vezes estacionada, sem subir nem descer. Vivi essa situação várias vezes e vi colegas também na mesma situação. Só que, no caso de alguns deles, os holofotes se apagaram de vez, o que me deixou muito triste. Além de ser uma dádiva de Deus o meu cantar, creio que permaneço até hoje por Sua ajuda. Acho que fui escolhida por Deus.
Pergunta:- Nem todas as músicas que você gravou eram maravilhosas. Havia algumas mesmo que eram terríveis... Se arrepende de ter gravado alguma?
Ângela Maria - Ih! Se eu começar a olhar, disco por disco (risos). Uma vez gravei nos Estados Unidos uma do Nelson Ned, que defendi num festival no começo dos anos 70. Esse disco, por exemplo, jogaria no lixo. Teria quebrado... Tem umas músicas horrorosas numa época em que só dava rock balada (N.R.: final dos anos 60). Por isso, tem um disco (N.R. Ângela em Tempo Jovem) em que fiz a foto montada numa moto, combinava bem... (risos)
Ângela Maria - É verdade (gargalhadas). Mas aí era marchinha de carnaval, e em carnaval vale tudo...
Pergunta:- Quem escolhia seu repertório e como era o processo de gravação?
Ângela Maria - Antigamente era eu mesma, depois não. Houve época em que gravava sem a presença de um produtor. Não pode! Até para o seu estado de espírito, o produtor tem que estar presente. De repente, você está nervoso, está rouco e pensa que não tem mais voz, então ele chega e diz: "Vamos tomar um café, vamos dar uma paradinha". (risos). O produtor é um padre, um irmão, um pai, um amigo. Por várias vezes, entrei no estúdio ao lado apenas do técnico de gravação. Em 77, gravei assim um disco de fados e outro de tangos. Como faltavam dois discos para eu liquidar meu contrato com a Copacabana, gravei ambos numa semana.
Não sei como saiu bonito... Não tive produtor. Deram-me a lista de músicas e disse: "Tudo bem, vou gravar". Estava querendo sair mesmo da gravadora e a lista que me deram era só de canções que eu já conhecia. Como nunca fui problemática para gravar, fiz de uma vez só as 24 músicas. Para mim, estava tudo sempre ótimo. Mas quando o produtor está do lado, ele puxa mais por você. Como com o José Milton, meu produtor há 20 anos. Ele me faz regravar algumas vezes algumas faixas. No meu CD Amigos (1996) fiquei três meses gravando. Ficava revoltada de ter que gravar outras vezes a mesma música e ele brincava: "É bom que ela fica com raiva, aí solta a voz e estoura a caixa de som..." (risos) Nesse disco, às vezes levava uma hora para a faixa sair maravilhosa.
Ângela Maria - Isso era instintivo. Pegava uma letra e sentia aquilo. É como acontece com esse pessoal que faz novela, que faz um personagem tão perfeito que parece que a própria pessoa é daquele jeito. Cantava a música como se aquilo estivesse acontecendo comigo.
Pergunta:- Muitas cantoras ficaram rotuladas por um estilo - Ademilde Fonseca com o choro, a Carmélia Alves com o baião, Nora Ney com o samba de fossa - mas isso não aconteceu com você...
Ângela Maria - Sempre cantei de tudo. Gravei muito samba-canção, boleros. Fiz cha cha cha uma época para alegrar um pouco os shows. Teve uma época que o samba-canção começou a ficar caidaço, aí passei para o bolero. Aí também resolvi lançar o fado de um jeito diferente, abolerado - e foi aquela "fechação". Depois, só dava rock balada e por aí fui sobrevivendo...
Pergunta:- Havia letras muito machistas em seu repertório... Você gravou até aquele cha cha cha que dizia que "a mulher é como chita..." (risos)
Ângela Maria - É mesmo (risos). Tem aquela também... Amante Bandido ("Me deu muitos beijos, matou seus desejos e depois levantou/ Me pisou me xingou, me humilhou e não disse o motivo/ E o pior disso tudo é que eu sei que sem ele eu não vivo")... E as de dor-de-cotovelo brabas, como A Partida (Ah! Se você me deixar/ Me deixe devagar...), do Evaldo Gouveia e Jair Amorim... Cantei essa música pouco tempo atrás numa festa fechada no Passatempo (SP) e a casa veio abaixo... Acho que as pessoas no fundo gostam e sentem falta dessas músicas de dor-de-cotovelo...
Ângela Maria - Sou uma cantora do povo, não sou tipo Elizeth Cardoso. Uma vez a Elizeth foi lá em casa e me perguntou: "Como é que você faz sucesso desse jeito? Qual é o segredo?" E eu respondi: "Deve ser o tipo de música que eu gravo, que não deve ser do seu gosto..." E ela: "Faço tudo para agradar e não acontece nada..." E eu: "É que você faz uma música muito elitizada e o povo não gosta. Procure um Adelino Moreira, um Paulo Marques, um Ari Monteiro... (risos) Pede uma música a eles e veja se você vai estourar ou não..." Mas não era o gênero dela, que gostava mesmo de Vinicius de Moraes, Tom Jobim... Era a sociedade que ia assistir aos shows dela. E ela já estava cansada disso, queria ver o povo junto dela...
Pergunta: - Por outro lado, as músicas mais elaboradas que você gravou são algumas das que vão ficar para sempre...
Ângela Maria - A primeira música que o Tom Jobim fez com Luiz Bonfá fui eu quem gravou, A Chuva Caiu. Na época, teve alguma repercussão, mas não foi um estouro. Também gravei muito Caymmi, Ary, Vinicius...
Pergunta:- Aliás, você chegou a atuar num show ao lado do Dorival Caymmi...
Ângela Maria - Nós fizemos um show juntos em 53 na boate Casablanca, na Praia Vermelha, uma das casas mais bem frequentadas do Rio de Janeiro. O [presidente] Jango ia lá. Fiz o Vogue muito tempo também. Era uma cantora popular, mas era querida também pelo pessoal da alta sociedade nessa época porque fiz muita temporada nessas casas boas. Fui contratada para fazer um mês o show com Caymmi e fizemos oito ou nove meses de casa lotada todo dia. Caymmi é finíssimo. Tinha muita admiração e cuidado comigo porque achava que eu era muito nova. Pedia para o Carlos Machado, Paulinho Soledade: "Deixa ela no camarim e só chama na hora de entrar em cena." Era meio paizão...
Pergunta: - E o Waldir Calmon, quando o conheceu?
Ângela Maria - Conheci gravando Babalu, quando ele pediu à Copacabana para fazer esse disco comigo. Só podiam entrar sucessos.

Ângela Maria - Foi Waldir quem sugeriu, porque faltava uma música no repertório. Ele tocava esse mambo na boate Arpège e o pessoal gostava . Eu disse a ele que conhecia a música mas não sabia a letra. Quando ele a conseguiu, fomos ensaiar. Aí inventei aqueles floreios vocais por cima da música e ele achou ótimo. A cada ensaio, eu fazia melhor. O técnico ficou tão entusiasmado que gravou o ensaio e depois disse: "Melhor do que isso, duvido que fique." E foi o que ficou para sempre no disco.
Ângela explica que foi explorada por assessores e ex-maridos no passado, de sua relação delicada com Dalva de Oliveira e da amizade com Cauby Peixoto
Pergunta: - Na Revista do Rádio, manchetes como "O que falta para Ângela ficar totalmente feliz?" sempre repisavam o fato de que você só não era mais feliz porque não conseguia ter filhos...
Ângela Maria - Isso me dava uma raiva enorme, mexia muito comigo, porque realmente eu não podia mesmo tê-los. E as revistas ficavam repisando esse asssunto. Parece que sabiam que me revoltavam.
Pergunta:- Ao mesmo tempo, você foi nessa época uma das figuras mais fotografadas de nossa música...
Ângela Maria - Fotografavam-me toda semana. Eu gostava de fazer pose. E isso continua até hoje. O meu fotógrafo (Montenegro) quase desmaia comigo... Ele me diz: "Não agüento essa mulher. Ela adivinha a pose, não precisa nem mandar ela fazer" (risos).
Pergunta:- Você sofreu muito na mão de seus antigos maridos e namorados?
Ângela Maria - Eu gosto de falar sobre o passado quando é bonito, maravilhoso. Mas sobre isso não. Passei muito mal na mão desses caras. Fui espezinhada, fui maltratada. Isso interferiu até na minha profissão. Fui muito violentada, enganada. Tanto que eu quase fui a zero nas finanças. Quem me ajudou a levantar foi Daniel. Estava disposta a largar tudo. Eu pensava que, já que ia para a miséria, que devia ir de uma vez, porque parecia que tudo tinha acabado. Fugi até do Rio, fui embora pra São Paulo, não queria ver mais ninguém. Quase tentei o suicídio, estava desesperada com esse pessoal. Pedi ao Daniel, porque vi que era uma pessoa honesta e sincera: "Pelo amor de Deus, tome conta dos meus negócios e me ajude, porque não sei como sair disso". Ele tinha um restaurante que, naquela altura, não podia largar.

Ângela Maria - Em 67, quando me mandei do Rio. Cheguei a São Paulo e pedi ajuda para a Copacabana, minha gravadora. Comprei uma casa e fiquei lá, mas aí começou a cair tudo. Eu, sem nenhuma noção de nada, dava dinheiro para meus assessores pagarem imposto da casa e não pagavam. Até o cemitério que tinha que pagar todo mês, não pagavam. No Natal, mandava garrafas de vinho de presentes para jornalistas. Mas o dinheiro, os fornecedores não viam. Meu nome ficava mal.
Pergunta: - Além de você já não vender tanto disco, teve ainda esse outro lado ruim...
Ângela Maria - Só encontrei gente para me explorar e mais nada, e não me indicar o caminho certo da coisa. Ninguém me ensinou nada. Só o Daniel. "Não estou devendo nada...", eu dizia a ele. Um dia ele viu: a pessoa que recebeu o cheque vir me cobrar. A pesssoa que trabalhava para mim era desonesta. Daniel descobriu todos os ladrõezinhos, meus empregados. Fez uma limpeza geral na minha casa. Depois, voltou tudo ao normal, porque ele tem uma cabeça de 60 anos e eu de 15. É claro que tem meninas de 15 que têm juízo. E eu não, acredito em todo mundo. Melhorei um pouco, mas ainda hoje ele ainda briga comigo: "Você está acreditando nisso?" É que eu ainda acredito nas pessoas...
Ângela Maria - Com o Daniel foi pior ainda. Não admitiam que eu fosse mais velha que ele. Isso é que machismo. Sempre houve. Não admitiam, como se no amor existisse isso, mas o contrário pode... Eles apostavam. Minha raiva é essa. Batendo papo, beijando no rosto e apostando por trás que ia acabar nossa união pela idade dele e quebraram a cara. Um dava um mês. Agora, estamos há 22 anos juntos.
Pergunta: - Quem era realmente seu amigo no meio musical?
Ângela Maria - Amigo mesmo era o Cauby Peixoto. Freqüentei a casa dele e ele a minha. Sempre foi um gentleman, pessoa maravilhosa. E a voz dele é a única no Brasil que casa com a minha. A gente se entende espiritualmente, no olhar. Os outros cantores eram colegas. A gente se via na rádio, na televisão.
Pergunta: - Você, que começou imitando Dalva de Oliveira, quando virou estrela teve alguma rixa com ela?
Ângela Maria - Conhecia a Dalva pelos corredores das emissoras de rádio. A gente apenas se cumprimentava, não éramos amigas. Eu era uma espécie de rival dela. Ela se assustava porque quando estava no auge da carreira, eu estava começando com força total e já pegando os fãs dela. E ela não gostava muito disso...
Pergunta: - Qual a análise que você faz dos seus 50 anos de carreira?
Ângela Maria - O saldo foi positivo. Teve passagens negativas, tive algumas coisas, como por exemplo esses anos em que passei por essas peripécias ruins, mas tive um anjo salvador, o Daniel. Sabe quando você está caindo? Enquanto eu viver não vou esquecer. Ele me tirou de um fundo de poço e realmente me deu uma mão... Nunca pensei que uma pessoa jovem me desse uma ajuda dessas.

Ângela Maria - Não fiz muita coisa. Uma coisa é um show no Teatro Municipal do Rio, de alto nível, com orquestra, coral, guarda-roupa... mas com portas abertas ao público que não tem possibilidades financeiras de ver um espetáculo como esse. Outra idéia é a de voltar a gravar, fazer a continuação do CD Amigos (em duetos com os principais expoentes da MPB, de 96).
Rodrigo Faour 23/02/2001
Fonte:CliqueMusic
Ângela Maria 1957 "Mentindo" filme "Rio Fantasia" de 1957, direção de Watson Macedo
Ângela Maria - Adeus Querido -
Compositor: Eduardo Patané e Floriano Faissal Artista: Angela Maria Filme: Fuzileiro do Amor, 1956 Diretor: Eurides Ramos
Ângela Maria e Elis Regina 1972
Angela Maria canta "Tango Pra Tereza" - 1975
Domingo, 30/07/1978 - Ângela Maria é considerada a melhor cantora brasileira
Pesquisa do Ibope encomendada pelo Fantástico enumera as dez melhores cantoras brasileiras na preferência do povo. Entre elas estão Fafá de Belém e Rita Lee, mas a vencedora é Ângela Maria.
FAFÁDE BELÉM E SAPOTI(ANGELA MARIA)
Ângela Maria e Altemar Dutra
Nenhum comentário:
Postar um comentário